Desde o início de junho tivemos na Galeria a presença da
equipe da Associação FotoAtiva,
com Camila Fialho, Rodrigo José, Irene Almeida e Adriele Silva para a
apresentação da mostra Um Tanto de Nós –
um ano depois. A exposição trouxe a Marabá a experiência de quatro jovens artistas
no projeto de residência Dois de cá,
dois de lá.
Para conhecer mais sobre o trabalho da FotoAtiva, acesse o link
abaixo
http://www.fotoativa.org.br/
foto: rodrigo josé
Um tanto
de Nós, um ano depois
A
exposição Um Tanto de nós marcou o
encerramento do projeto Fotoativa em
Residência: dois de cá, dois de lá, realizado pela Associação Fotoativa, em
Belém/ PA 2015, em uma última imersão criativa no Museu da UFPA, através do
Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais, em sua 11a edição. Sob
a orientação curatorial de Alexandre Sequeira e Armando Queiroz, reuniu os
trabalhos de Débora Flor (PA), Malu Teodoro (RO), Randolpho Lamonier (MG) e
Wellington Romário Alves (PA) que, ao longo de dois meses, imergiram em
vivências, experimentações e trocas artísticas junto com outros artistas e
agentes culturais da cena belenense.
Um ano
depois, Um Tanto de Nós ganha desenho
outro em itinerância para Marabá a convite da Galeria de Arte Vitória Barros
que a recebe agora em sua sede.
Revisitar
estes trabalhos passado exato um ano desde sua exibição pública para esta
montagem abre outras portas de afetos, traz novos cruzamentos, brinca ao
remontar o tempo e narrar variantes de uma memória que continua a reverberar
dentro de cada um dos artistas e, claro, de seus trabalhos.
O Escuro do Rio, de Randolpho Lamonier, lança o espectador em
um deslizar por entre veias da memória d’água desde a Baía do Guarajá, o grande
rio-mar que circunda Belém e a Ilha de Cotijuba, nesta grande cidade-arquipélago
fragmentada. Encantarias, respiros e mergulhos nas profundezas do imaginário
amazônida visitadas pelo artista. Um corpo que submerge e volta à superfície e
se entrega e se distancia e nada mais um pouco e volta a mergulhar.
Desde as
águas barrentas, submergimos num mundo de sonhos. Débora Flor desdobra sua experiência
com Dandara, na Ilha do Marajó, em novas peças, um rearranjo de recordações que
vem a se somar ao conjunto. O Livro dos
Sonhos envolto pelo mosquiteiro ambienta o pequeno universo criado através
do encontro entre as duas meninas, crianças-moças, Dandara e Flor. O lençol que
um dia cobriu o corpo, agora conforma-se no branco da sala em um Céu azul sonhado
por Dandara, sem estrelas, mas coberto de flores. Na parede, sobreposição de
tempos e lembranças de encontros e brincadeiras, fotografias esfumaçadas. Na
televisão, o silêncio da despedida, da separação de um tempo que não volta
mais, mas que é guardado como relíquia do vivido, em recônditos de ternuras.
Do
sonho, somos convidados a visitar memórias estreladas. Malu Teodoro constrói pequenas
constelações de afetos a partir de um imenso repertório fragmentado de
experiências que num fio temporal não têm mais antes ou depois. Apenas é. O véu
opaco encobre/ descobre esses íntimos então revelados em pequenos formatos.
Costuras de relações, anotações, mapas de descaminhos reencantados. Uma pequena
caixa de lembranças de um tempo sem tempo e sem fronteiras que desliza em direção
ao Norte de suas origens, do reencontro consigo mesma. Uma bússola que aponta
para Porto Velho, de onde veio, para onde foi, onde está Malu.
Para
fechar, num diálogo com reminiscências ancestrais, a carta de Wellington
Romário. Rasgada pelos sopros do vento da antiga residência que virou museu, agora
é outra vez costurada. Marca o pulsar das revoltas que não se calam e vociferam
com senhores que não existem mais, mas cujas marcas ainda latejam na pele negra
dos descendentes de escravos outrora desenraizados de terras distantes e aqui
instalados. Escrita de um punho certeiro, traz a história de seus antepassados
ativada pela ambiência do Palacete Augusto Montenegro que abrigou a exposição
precedente. O Acervo Particular
brinca com achados-relíquias e tempos entrelaçados. Memórias ficcionais
intensificam o diálogo entre o senhor-patrão e o escravo que não brinca mais. Encerra
em si um ciclo, abre outro que renasce liberto e afirma sua voz.
Viver ou Narrar, para consulta dos olhos e das mãos, tece um pouco
do que foi esses dois meses de convivência e criação entre Flor, Malu, Roma e
Randolpho e mais tantos que de alguma forma fizeram parte desta
vivência-residência artística que aqui se materializa enquanto exposição, com Um Tanto de Nós, de cada um de nós, um
ano depois.
por Camila Fialho
Belém, junho de 2016.
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