quarta-feira, 20 de julho de 2016

O mês está acabando e a exposição Um Tanto de Nós está chegando ao fim.

Desde o início de junho tivemos na Galeria a presença da equipe da Associação FotoAtiva, com Camila Fialho, Rodrigo José, Irene Almeida e Adriele Silva para a apresentação da mostra Um Tanto de Nós – um ano depois. A exposição trouxe a Marabá a experiência de quatro jovens artistas no projeto de residência Dois de cá, dois de lá.


Para conhecer mais sobre o trabalho da FotoAtiva, acesse o link abaixo

http://www.fotoativa.org.br/


foto: rodrigo josé



Um tanto de Nós, um ano depois


A exposição Um Tanto de nós marcou o encerramento do projeto Fotoativa em Residência: dois de cá, dois de lá, realizado pela Associação Fotoativa, em Belém/ PA 2015, em uma última imersão criativa no Museu da UFPA, através do Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais, em sua 11a edição. Sob a orientação curatorial de Alexandre Sequeira e Armando Queiroz, reuniu os trabalhos de Débora Flor (PA), Malu Teodoro (RO), Randolpho Lamonier (MG) e Wellington Romário Alves (PA) que, ao longo de dois meses, imergiram em vivências, experimentações e trocas artísticas junto com outros artistas e agentes culturais da cena belenense.
Um ano depois, Um Tanto de Nós ganha desenho outro em itinerância para Marabá a convite da Galeria de Arte Vitória Barros que a recebe agora em sua sede.
Revisitar estes trabalhos passado exato um ano desde sua exibição pública para esta montagem abre outras portas de afetos, traz novos cruzamentos, brinca ao remontar o tempo e narrar variantes de uma memória que continua a reverberar dentro de cada um dos artistas e, claro, de seus trabalhos.
O Escuro do Rio, de Randolpho Lamonier, lança o espectador em um deslizar por entre veias da memória d’água desde a Baía do Guarajá, o grande rio-mar que circunda Belém e a Ilha de Cotijuba, nesta grande cidade-arquipélago fragmentada. Encantarias, respiros e mergulhos nas profundezas do imaginário amazônida visitadas pelo artista. Um corpo que submerge e volta à superfície e se entrega e se distancia e nada mais um pouco e volta a mergulhar. 
Desde as águas barrentas, submergimos num mundo de sonhos. Débora Flor desdobra sua experiência com Dandara, na Ilha do Marajó, em novas peças, um rearranjo de recordações que vem a se somar ao conjunto. O Livro dos Sonhos envolto pelo mosquiteiro ambienta o pequeno universo criado através do encontro entre as duas meninas, crianças-moças, Dandara e Flor. O lençol que um dia cobriu o corpo, agora conforma-se no branco da sala em um Céu azul sonhado por Dandara, sem estrelas, mas coberto de flores. Na parede, sobreposição de tempos e lembranças de encontros e brincadeiras, fotografias esfumaçadas. Na televisão, o silêncio da despedida, da separação de um tempo que não volta mais, mas que é guardado como relíquia do vivido, em recônditos de ternuras.
Do sonho, somos convidados a visitar memórias estreladas. Malu Teodoro constrói pequenas constelações de afetos a partir de um imenso repertório fragmentado de experiências que num fio temporal não têm mais antes ou depois. Apenas é. O véu opaco encobre/ descobre esses íntimos então revelados em pequenos formatos. Costuras de relações, anotações, mapas de descaminhos reencantados. Uma pequena caixa de lembranças de um tempo sem tempo e sem fronteiras que desliza em direção ao Norte de suas origens, do reencontro consigo mesma. Uma bússola que aponta para Porto Velho, de onde veio, para onde foi, onde está Malu.
Para fechar, num diálogo com reminiscências ancestrais, a carta de Wellington Romário. Rasgada pelos sopros do vento da antiga residência que virou museu, agora é outra vez costurada. Marca o pulsar das revoltas que não se calam e vociferam com senhores que não existem mais, mas cujas marcas ainda latejam na pele negra dos descendentes de escravos outrora desenraizados de terras distantes e aqui instalados. Escrita de um punho certeiro, traz a história de seus antepassados ativada pela ambiência do Palacete Augusto Montenegro que abrigou a exposição precedente. O Acervo Particular brinca com achados-relíquias e tempos entrelaçados. Memórias ficcionais intensificam o diálogo entre o senhor-patrão e o escravo que não brinca mais. Encerra em si um ciclo, abre outro que renasce liberto e afirma sua voz.
Viver ou Narrar, para consulta dos olhos e das mãos, tece um pouco do que foi esses dois meses de convivência e criação entre Flor, Malu, Roma e Randolpho e mais tantos que de alguma forma fizeram parte desta vivência-residência artística que aqui se materializa enquanto exposição, com Um Tanto de Nós, de cada um de nós, um ano depois.


por Camila Fialho
Belém, junho de 2016.

    

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