Sombras da minha cidade
Sombras da minha cidade traz a sucata como elemento criativo,
cujas imagens e temas são revelados em um jogo de luz e sombra com as
esculturas feitas desse material. A exposição foi inspirada por obras da dupla
de artistas britânicos Tim Noble e Sue Webster. Antes da realização desse
projeto, há algum tempo que já convivia com o acúmulo de sucata na oficina de
meu esposo, vendo-a apenas como resíduo inútil de objetos já sem uso.
Nunca havia pensado na sucata como material
artístico, até fazer minha primeira escultura, VeneraCão, realizada com correntes metálicas e peças de
ventiladores. Pude perceber o quanto esse material está impregnado de história
e significados pessoais ou culturais, abrindo muitas possibilidades à criação e
à educação ambiental, que só seriam possíveis ao dar valor não somente a minhas
próprias memórias, mas também às memórias dos objetos, mantendo uma relação
íntima com a escolha da matéria.
O teatro de sombras me remete à infância – aos
três anos de idade, minha família migrou da minha terra natal, Manaus (AM),
para Santarém (PA); e de lá para Marabá (PA), aos seis anos. Tínhamos luz
elétrica na época. Porém, nos períodos em que ela nos faltava, as luzes das
velas acesas inspiravam brincadeiras com as sombras feitas pelas mãos. A
escuridão alimentava nosso imaginário, contando lendas e inventando narrativas
fantásticas.
Nesta exposição,
tentei homenagear a cidade que acolheu a mim e minha família, elegendo temas
ligados à memória coletiva local. Cada obra é formada tanto pela materialidade
da sucata quanto pela imaterialidade das sombras. Estas últimas constroem
imagens de sentimentos, memórias, experiências e traumas vividos na minha
infância: sombras da cidade que conheci, sombras da cidade em que convivi. E
sombras que ainda vivo.
Setembro de 2016,
Paula Corrêa.
visitação de 09/09 a 07/10/16
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