sábado, 7 de março de 2015

Homenagem ao Dia Internacional da Mulher

Homenagem ao Dia Internacional da Mulher

MULHER
Num ritual quase religioso tece, borda, encanta.
Sentar na máquina de costura é quase uma ciência.
Mãos enrugadas enfeitam tudo o que vê.
Transforma laçarotes encardidos em fitas e fitilhos coloridos.
As bonecas de pano vestidas de seda parecem gente.
Remenda, prega, enfia laços e colchetes.
No avesso de um velho tecido desbotado descobre um banquete inexistente.
Na velha renda ergue um decote como se organizasse um jantar a dois.
No oratório estilo barroco, ao pé da máquina, esconde linhas, agulhas e alfinetes no meio dos santos.
Faz da vida um templo, onde a porta de entrada é a roupa bem talhada, o figurino perfeito.
O molde, o tecido, as cores, são pontes que a levam para outros mundos. 
A imaginação parece encontrá-la sempre desprevenida.
Com sutileza abre-se para o novo como se criança fosse.
Com juventude na alma, modela o indecifrável levando os olhos a gostar do que vê.
Com os sentidos sempre cheio de esperança a cria novos modelos.
As mãos obedecem silenciosas seu ímpeto criativo. Dali saindo obras colossais.
Em suas mãos, as linhas e os tecidos multicoloridos extrapolam a materialidade das coisas.
Tece um mundo de sonhos num ritual que se mistura com trabalho e brinquedo como criança.
Na colcha de retalhos realizava o trajeto da vida.
Na espinha dorsal da alma, guarda a imaginação sem limites.
Recolhe desejos secretos e guarda num cesto imaginário a sua alegria de viver.
O disfarce perfeito para uma vida feliz. Isto é ser MULHER

Homenagem da Galeria de Arte Vitória Barros à todas as mulheres, representadas pelas mulheres costureiras, que representam esse fazer tão antigo que era quase exclusivo das mulheres, mas pode ser representado no sentido simbólico, pois não se trata apenas de costurar com máquina de costura, na verdadeira acepção da palavra, mas com a alma, com o coração, com a sensibilidade, com o amor, já que na sociedade contemporânea o papel desempenhado pela mulher é de fato “costurar”, situações, relacionamentos, vivências, agregando amor, sabedoria, compaixão, e muitos outros sentimentos que mexem com a alma e transformam o mundo em um mundo melhor. Vai aqui uma reflexão: O que estamos fazendo (homens e mulheres) para a construção de um mundo melhor, mais sustentável, mais humano?
Como resgatar valores como honestidade, respeito, moralidade, responsabilidade, num mundo que se preocupa apenas com o lucro em todas as suas nuances? 

                                                                                                                                       Ana Maria Martins



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