Homenagem ao Dia Internacional
da Mulher
MULHER
Num
ritual quase religioso tece, borda, encanta.
Sentar
na máquina de costura é quase uma ciência.
Mãos
enrugadas enfeitam tudo o que vê.
Transforma
laçarotes encardidos em fitas e fitilhos coloridos.
As
bonecas de pano vestidas de seda parecem gente.
Remenda,
prega, enfia laços e colchetes.
No
avesso de um velho tecido desbotado descobre um banquete inexistente.
Na
velha renda ergue um decote como se organizasse um jantar a dois.
No
oratório estilo barroco, ao pé da máquina, esconde linhas, agulhas e alfinetes
no meio dos santos.
Faz
da vida um templo, onde a porta de entrada é a roupa bem talhada, o figurino
perfeito.
O
molde, o tecido, as cores, são pontes que a levam para outros mundos.
A
imaginação parece encontrá-la sempre desprevenida.
Com
sutileza abre-se para o novo como se criança fosse.
Com
juventude na alma, modela o indecifrável levando os olhos a gostar do que vê.
Com
os sentidos sempre cheio de esperança a cria novos modelos.
As
mãos obedecem silenciosas seu ímpeto criativo. Dali saindo obras colossais.
Em
suas mãos, as linhas e os tecidos multicoloridos extrapolam a materialidade das
coisas.
Tece
um mundo de sonhos num ritual que se mistura com trabalho e brinquedo como
criança.
Na
colcha de retalhos realizava o trajeto da vida.
Na
espinha dorsal da alma, guarda a imaginação sem limites.
Recolhe
desejos secretos e guarda num cesto imaginário a sua alegria de viver.
O
disfarce perfeito para uma vida feliz. Isto é ser MULHER
Homenagem
da Galeria de Arte Vitória Barros à todas as mulheres, representadas pelas mulheres
costureiras, que representam esse fazer tão antigo que era quase exclusivo das
mulheres, mas pode ser representado no sentido simbólico, pois não se trata
apenas de costurar com máquina de costura, na verdadeira acepção da palavra,
mas com a alma, com o coração, com a sensibilidade, com o amor, já que na
sociedade contemporânea o papel desempenhado pela mulher é de fato “costurar”,
situações, relacionamentos, vivências, agregando amor, sabedoria, compaixão, e
muitos outros sentimentos que mexem com a alma e transformam o mundo em um
mundo melhor. Vai aqui uma reflexão: O que estamos fazendo (homens e mulheres)
para a construção de um mundo melhor, mais sustentável, mais humano?
Como
resgatar valores como honestidade, respeito, moralidade, responsabilidade, num
mundo que se preocupa apenas com o lucro em todas as suas nuances?
Ana Maria Martins
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